segunda-feira, 27 de maio de 2013

Óvnis no Oeste Paulista

A Onda Que Abalou Assis em 1995

CLÁUDIO TSUYOSHI SUENAGA

No início de 1995, uma onda de proporções gigantescas atingiu toda a região Oeste do Estado de São Paulo – o Pontal do Paranapanema –, principalmente Assis, cidade de 100 mil habitantes a 432 km da capital paulista. Por coincidência, na época desenvolvíamos a primeira dissertação de mestrado no Brasil abordando o fenômeno OVNI no campus da Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Estadual Paulista (Unesp), localizado justamente nessa cidade, e pudemos assim ir a campo e entrevistar inúmeras testemunhas. É raro encontrar uma onda em que tantas facetas do fenômeno tenham se concentrado. Assis constituiu um autêntico laboratório do problema estudado, além de ter oferecido a oportunidade direta de desvendarmos parte da trama que a política das hegemonias tem procurado monopolizar, abafar e tornar controvertido.

Antecedendo a “grande onda”, houve uma espécie de “ensaio” em uma comunidade estabelecida numa fazenda próxima à cidade de Presidente Prudente, a 134 km de Assis. Desde junho de 1994, integrantes de quatorze famílias da Comunidade do Bom Pastor andavam às voltas com luzes que realizavam manobras e até desciam à altura do solo, conforme apurou o ufólogo e editor da revista UFO Ademar José Gevaerd (ver edição nº 35, janeiro de 1995, p. 28-30), que foi pessoalmente ao local fazer levantamentos.
O primeiro caso da onda de Assis soa como um prenúncio do que estava por vir. No dia 5 de janeiro de 1995, por volta das 2h30, a insônia acometia a costureira Maria Aparecida Pugliese, 45 anos, residente na Vila Operária. Resolveu então se sentar no quintal dos fundos para respirar um pouco de ar fresco. Não demorou para que sua cadela começasse a latir furiosamente em direção ao céu. Maria, supondo que um gato andava pelo telhado, espantou-se ao ver que na verdade tratava-se de um enorme objeto oval meio disforme, brilhante (como uma “lâmpada fluorescente”) maior que a Lua cheia, que fazia movimentos alternados, mantendo uma distância de cerca de 400 m de onde se encontrava. Segundo ela, quando o objeto (que parecia ser feito de “vidro” ou “metal transparente”) girava, alguns “ganchos” pendiam para baixo. No desenho de Maria, o objeto assemelha-se a um “vírus” ou “bactéria” que lembra as “criaturas” flutuantes do quadro Céu Azul, do pintor expressionista russo Wassily Kandinsky (1866-1944). Emitia lampejos que ofuscavam seus olhos e um chiado intermitente (como o de um rádio mal sintonizado) que penetrava em seu cérebro. Por um breve período sentiu a mente paralisada, com a impressão de que alguém a comandava. “Parecia que tinha uma força magnética, um imã no objeto. Senti medo e uma batedeira no coração”.

O OVNI, multicolorido, de esverdeado passou a lilás mais claro e depois para um alaranjado muito forte (esta cor foi a que mais lhe atacou a vista). O objeto soltou ainda um chuvisco “parecido com o chuvisco da tevê” (vale lembrar que tal como muitos outros, o contatado Gênesis Moreira, de Guaianazes, também comparou a luz que apareceu em seu quarto com o “chuvisco de tevê”). De repente, aumentou sua luminosidade (fez um “zoom”) e “Quando pisquei os olhos ele sumiu como se tivesse apagado”. A cadela, de tão amedrontada, naquela madrugada refugiou-se sob a cama do casal, lá permanecendo até o amanhecer. Apesar dos olhos muito irritados, Maria ainda conseguiu dormir até às 7h30. Durante vários dias os olhos de Maria sofreram coceira, ardência e lacrimejação. Curiosamente, as goiabas de uma árvore do quintal, mesmo fora de época, amadureceram antes do tempo.

A onda tomou vulto em sete de janeiro, quando um objeto foi avistado ao mesmo tempo em todos os arredores da cidade. A própria Maria o viu, mas como parecia menor do que o da vez anterior, não deu muita importância.

Por volta das 23 horas, seus vizinhos conversavam distraidamente nas calçadas quando a menina Natália Caetano Vieira Pinto, então com cinco anos, que andava de bicicleta, chamou a atenção para um objeto oval branco-avermelhado estacionado acima dos fios de alta tensão da Fepasa. Quase toda a família de Natália viu o objeto. O aposentado Roque Vieira Pinto, 63 anos, avô de Natália, estava dentro de casa e foi atraído pelos gritos na rua: “O objeto era uma esfera brilhante com cerca de 60 cm de diâmetro que alternava várias cores (azul, amarelo, abóbora). Na lente do binóculo ele parecia mais escuro. Um círculo com uma pequena faixa brilhante era discernível. A olho nu parecia girar em torno de si mesmo”.


A esposa de Roque, Terezinha Galan Pinto, 53 anos, descreve o que viu: “Era uma esfera oval, brilhante, de cor vermelha na parte de cima e branca embaixo, com cerca de 3 m de diâmetro. Surgiu quase em cima de minha casa, e depois foi se afastando e sumindo para os lados da cidade de Ourinhos. Era como uma estrela, muito bonita. Eu não tive nem um pouco de medo. Eu vi e queria ver de novo. Tenho certeza que balão não era, era um objeto estranho mesmo. Quando telefonaram para o corpo de bombeiros eles falaram que era um balão, mas balão não era, tenho certeza”, enfatizou.

Sônia Regina Vieira Pinto, 39 anos, casada com João Roque Vieira Pinto (filho de Terezinha) e mãe de Natália, auxiliar de enfermagem e aluna do 1º ano de enfermagem na Universidade de Marília (Unimar), acha que não era satélite, balão ou estrela, mas também não tem certeza se era um disco de outro planeta. “Desconfiei que era uma projeção”, declarou. Rafael Caetano Vieira, 11 anos, irmão de Natália, a exemplo desta andava de bicicleta no momento em que o OVNI apareceu. Por ter assistido três vezes o filme E.T., o Extraterrestre, de Steven Spielberg, achou que era um OVNI pilotado por um ser de outro planeta.
A bancária Jane Margareth Vieira, 39 anos, logrou filmá-lo com sua câmera VHS, captando com nitidez o objeto redondo silencioso que mudava ligeiramente de formato, tamanho e cor. Às 23 horas, estava no quarto assistindo tevê junto com sua mãe Dirce de Souza Vieira, quando foi despertada pelos gritos na rua. Ao ver que se tratava de um OVNI, apanhou sem demora a câmera e passou a registrar os movimentos laterais que ele fazia, como se rodeasse o local. “A emoção foi tanta que esquecemos os pães que estavam assando no forno”, lembrou. Jane confessa que ficou com medo de ser levada por alguém que estivesse dentro daquela “esfera perfeita”, muito brilhante e de cor avermelhada.

Pouco antes, por volta das 22h30, provavelmente o mesmo objeto desencadeou o pânico em uma casa próxima do centro de Assis. Dolores Gonçalves Rodrigues, 43 anos, e sua irmã gêmea Doralice Gonçalves Cleante, visitavam a irmã mais velha, Maria Nadir dos Santos Oliveira, 48 anos. Sentadas tranqüilamente no muro da casa, não esperavam que uma forte luz iria pairar no céu, logo acima de suas cabeças. Dolores chegou a temer que iriam ser sugadas para dentro do objeto. Quem mais se assustou, no entanto, foi Doralice. A jornalista Sandra Regina Pagnan, colaboradora do Jornal da Segunda, na edição de 16 de janeiro de 1995 escreveu que a luz forte e branca vinda do céu abalou a tranqüilidade de Dolores e de seus familiares. Auxiliada por sua irmã gêmea Doralice e seu sobrinho, Rafael Cleante, 13 anos, Dolores recordou-se daquela noite e confessou que ficou assustada com o que viu. “Parecia um farol grande apontado para nós, como que nos vigiando”.

Entre os que viram o OVNI, Doralice foi quem mais se assustou. “Eu corria de um lado para o outro da casa. Certo momento, fui para o quintal achando que estaria me escondendo, mas a luz estava no fundo da casa também”. O medo de Dolores era o de que eles pudessem ser sugados para dentro do objeto. Dolores contou que estavam sentadas no muro da casa quando viram aquela luz. Segundo seu relato, a luz era forte, mas não o suficiente para clarear o ambiente onde estavam. Apenas tornava impossível fixar o olhar contra a luz que, segundo as pessoas que viram, tinham o formato de uma estrela. A luz branca permaneceu visível por alguns minutos, distante cerca de 500 m dos observadores. “Em seguida, a luz se apagou e surgiu um ponto luminoso vermelho que permaneceu visível por mais tempo, uns 15 minutos”, lembrou Doralice. A luz branca voltou a aparecer para depois apagar e distanciar-se do local. De acordo com o relato da família, a impressão que se teve foi que o OVNI estava bem próximo do solo e se afastou como se fosse um avião decolando.

Passado o medo, Dolores e seus familiares começaram a analisar o fato tentando identificar aquela luz. Descartaram qualquer possibilidade de que se tratasse de uma aeronave ou um balão. “Conheço bem balões, e aquela luz não se parecia nada com um”, assegurou Doralice. Estrela cadente foi outra hipótese não aceita por elas, já que a luz permaneceu parada por um certo tempo. No dia seguinte ao episódio souberam que não foram os únicos a ver o objeto. A luz intrigou um amigo da família que viu o objeto na cidade de Cândido Mota. A família nunca conseguiu elucidar o fato. Uma coisa, no entanto, é certa: a imagem do “farol com luz forte e branca” permanece registrada na memória de cada um como algo assustador, sobretudo pela impossibilidade de identificá-lo.

Enquanto isso, o técnico eletricista e comerciante Ademar Manzano Blanco, 65 anos, proprietário da Auto Elétrica do Manzano, na Rua João Ramalho, se dirigia para casa, no Jardim Europa, acompanhado de sua esposa Aparecida Soares Manzano, 62 anos. Da caminhonete Ford F-1000, na rua José Severino, Ademar chamou a atenção da esposa para um objeto avermelhado com o formato de uma bacia emborcada se locomovendo em direção ao bairro de Santa Cecília. Parou o veículo e ficaram observando. A certa altura, o objeto fez uma curva de 90 graus e mudou o sentido para Cândido Mota. Por duas vezes, o objeto disparou fortes flashes de luz branca. “Andava um pouco, soltava um flash e voltava a apagar. O curioso é que a parte de baixo não era visível. Os contornos só eram nítidos na parte de cima. A luz refletia para baixo como um flash de máquina fotográfica”.

Na condição de técnico, Ademar avaliou nunca ter visto uma luz como aquela. Segundo ele, para que se produzisse uma luz com tal intensidade seria necessária a aplicação de uma corrente contínua de no mínimo 28 volts. A corrente alternada ultrapassaria os 300 volts. A quantidade de watts teria de ser altíssima. A edição de 23 de janeiro do Jornal da Segunda trouxe uma reportagem a respeito, assinada por Sandra Regime Pagnan e Dagoberto Nogueira. Ademar contou que chegava em casa, acompanhado de sua esposa, na rua João Cabianca, no Jardim Europa, quando avistou o OVNI às 22h30. O objeto era silencioso e se deslocava bem devagar. Ele se recorda que por duas vezes o objeto emitiu uma luz branca e forte “como se tivesse disparando um flash”. “Nunca vi uma luz igual; é algo completamente diferente”, declarou. Ele calculou que o objeto estava a uns 40 m do solo.

O episódio deixou o eletricista e sua esposa assustados e ao mesmo tempo intriga-dos. Ademar diz conhecer bem balões e não acredita que fosse um. Com o seu conhecimento em eletricidade adquirido ao longo dos 40 anos que atua na área, ele ressalta que para emitir uma luz tão forte quanto a que foi emitida pelo OVNI seria necessário um equipamento com muita potência o que se tornaria pesado demais para ser transportado por um balão. Outro fato que fez com que Ademar descartasse a possibilidade de ser um balão foi a mudança de direção do objeto. “Um balão acompanha a direção do vento, além do mais, os balões possuem uma tocha de fogo bastante perceptível para quem os vê de longe”, asseverou. A total ausência de barulho do objeto é outro fator que deixou o eletricista cismado. “O objeto se movia muito lentamente sem fazer barulho algum, por isso não acredito que fosse um avião ou algo semelhante”. A reportagem termina dizendo que “Durante todo o depoimento, Ademar demonstrou coerência e segurança nas explicações que deu. Ele está convencido de que se trata de algo totalmente desconhecido e quer desvendar esse que é para ele ‘um grande mistério’”.

No Aeroporto Estadual de Assis, o vigilante noturno José Valdir Pereira, 41 anos, atendeu seguidamente telefonemas de moradores do centro da cidade (da rua José Nogueira Marmontel e da av. Rui Barbosa) que pediam aflitamente informações sobre o objeto estranho. José não acreditava no que ouvia, apesar do tom de semidesespero de algumas pessoas, até que por volta das 23 horas avistou um ponto brilhante amarelo-claro próximo da zona urbana de Assis. Entretanto, ainda assim achou que era só um balão. Católico praticante, para ele os OVNIs não passam de “superstição”.

Um morador da rua Santos Dumont, do bairro de Santa Cecília, que preferiu não se identificar, relatou à equipe de reportagens do jornal A Gazeta do Vale ter avistado um OVNI por volta das 4h15 de 18 de janeiro. Era uma bola de luz em tom amarelado que pairava no ar a uma altura estimada em aproximadamente um quilômetro. Segundo o morador, o objeto permaneceu no local até às 4h50, quando se deslocou no sentido sudoeste, até as proximidades da Vila Operá-ria. O morador explicou que a luz desapareceu de repente, como se tivesse sido apagada, para não mais aparecer.

O professor primário Milton Martins, 47 anos, formado em Letras pela Unesp, morador de um prédio na av. Rui Barbosa, no centro, contou-nos que em 24 de janeiro 1995, terça-feira, por volta das 20h30min, viu um objeto esférico, brilhante, do tamanho de uma bola de futebol, pairando acima da catedral e que depois cortou todo aquele setor da cidade. Por fim, descreveu uma parábola e seguiu em direção a Palmital. 
Por volta das 23h45min dessa mesma noite, Christiano José Jabur, então com 18 anos, residente no centro da cidade, filmou do fundo de seu quintal um objeto redondo vermelho-alaranjado que pairou no local até às 00h30min.

Na noite de 27 de janeiro, entre 22h48 e 23 horas, a estudante e secretária Adaguimar, de 21 anos, descia uma rua da Vila Operária, onde morava, quando viu um objeto esférico branco meio disforme, com cerca de 5 m de diâmetro, que aumentava e diminuía de tamanho e fazia movimentos ascendentes e descendentes. Ela confessou que ficou medo de entrar em casa e deparar-se com um ET pronto para raptá-la. Adaguimar, que integrava uma Sociedade Secreta Druida que reverencia magos, anjos e bruxas, se recordou de que na infância viu uma bola cor de chumbo passar lentamente sobre sua casa. Seu pai, que há 33 anos trabalhava no Horto Florestal, na Estrada para Echaporã, costumava ver OVNIs sobrevoando o local.

Em meados de fevereiro, Milton voltou a avistar o mesmo OVNI. Às 4h30 estava lendo na sala e ao desviar o olhar para a janela notou que a luz pairava na altura da Catedral. Milton acordou seu filho Lucas, então com 22 anos, para que também testemunhasse. Eis o que o garoto contou: “Fiquei até às 6h20 admirando o objeto amarelo claro na varanda do apartamento. Ele tinha o formato estelar, e uns 40 m de diâmetro. Parecia de metal. Aproximava-se e afastava-se, dando a impressão de mudar de tamanho. Telefonamos para o 190 (Batalhão da Polícia Militar) comunicando o fato, mas o general de plantão não viu o objeto. Mas eu acredito que era mesmo um disco voador”.

Na época em que a onda já tinha se arrefecido, em seis de março, o motorista José Martins Crispim conduzia de volta para Assis o ônibus da empresa Florínea, transportando cerca de cinqüenta estudantes da Unimar. Marcão, um investigador da Polícia, viajava em pé ao seu lado. Por volta das 22h30, no trecho compreendido entre as duas serras no acesso a Marília pela SP-333 (uma das rodovias mais perigosas do Estado), perto do município de Oscar Bressane, Crispim notou uma luz estranha no céu. No intuito de observar melhor, parou no acostamento e apagou todas as luzes do veículo. Deteve-se no local durante uns 5 minutos, período em que procurou captar os detalhes do objeto. “Era meio oval, mais embaçado do que uma lâmpada e mais brilhante do que uma estrela. Tinha uma cor amarelada, quase marrom. Da distância em que nos encontrávamos, parecia do tamanho de uma laranja. Não variou o formato. Ficou parado e depois partiu em alta velocidade. Seguiu para a direita, no sentido norte/nordeste. Fiquei impressionado com a visão e senti um pouco de medo. Aquilo  não era deste mundo. O negócio era sério mesmo”. Crispim disse ter feito o seguinte comentário ao Marcão: “Se existir disco voador, aquilo lá é um”. Marcão concordou. Nessa altura, alguns alunos também comentavam o avistamento. Por vias das dúvidas, Crispim disse que tratou logo de deixar o local. Exatamente uma semana depois, só que na viagem de ida a Marília, por volta das 20 horas, Crispim voltou a observar, desta vez sozinho (ninguém o acompanhava e os alunos estavam lendo distraidamente) o mesmo objeto, no mesmo local.

Com o propósito de realizar uma análise crítico-comparativa dos casos reportados no período e detectar possíveis discrepâncias, aplicamos em todas as testemunhas por nós entre-vistadas um extenso questionário, o qual permitiu auferir a consistência real das descrições e os condicionamentos culturais em curso. Cumpre observar que no momento da inquirição tomamos o cuidado de não proceder como alguns ufólogos, que acabam por influenciar sutilmente o desfe-cho dos casos, forçando as respostas de modo a validar conclusões preconcebidas. Infelizmente, verificamos que muitos tendem a tirar conclusões precipitadas com base em dados insuficientes. Para tanto, nossa planilha procurou abarcar um amplo espectro, levando em consideração parâ-metros não só de ordem objetiva como também subjetiva. Em certos casos, parte dos dados ne-cessários não foi disponibilizado. Dependendo da situação, refizemos as perguntas, até que as informações necessárias aparecessem. Não obstante, sempre respeitamos as opções das testemu-nhas, não objetando caso não quisessem responder a determinado item, o que raramente veio a ocorrer.

Antes ou depois da aplicação do questionário, deixamos a testemunha descrever livremente o fenômeno. Pedimos em seguida que nos fizesse um esboço ou desenho sobre o que avistara. Reunindo e classificando todos os dados obtidos, constatamos numerosas diferenças e contradições. Mas não ficamos surpresos com os resultados e já esperávamos que assim fossem. A percepção, entendida como o ato ou efeito de perceber, é uma função psíquica complexa, por intermédio da qual a mente vem a formar uma reprodução dos objetos exteriores, com o conhecimento da situação espacial, da individualidade e da realidade desses objetos. A percepção visual se distingue da sensação, pois que é muito mais complexo; exige o concurso de imagens, de um juízo de exterioridade, da atenção etc. Para o filósofo e matemático alemão Gottfried Wilhelm von Leibniz (1646-1716), a percepção é a “representação mais ou menos viva que transforma cada mônada num espelho mais ou menos vivo de todo o Universo”.

A crença na existência do mundo exterior é um produto de aquisição, admitindo alguns como imediata a percepção do nosso eu e, como adquirida, por via discursiva a noção do não-eu. Dois indivíduos ao verem uma coisa dificilmente captam os mesmos dados sobre ela, pois cada um interpreta de modo diferente. A interseção entre o estímulo e a reação não é biunívoca nem independe da educação, da história e da linguagem. A visão e sua representação são determinadas não só pelo sistema neural, mas principalmente pelos condicionamentos culturais. Sabemos que todas as testemunhas podem cometer erros ou falsear a realidade, sem que tivessem esses propósitos, moldando suas narrações de acordo com expectativas previamente definidas, afetando certas magnitudes observáveis. Mais do que um receptor ou transmissor de informações, o ser humano é um transformador. A forma como vemos o mundo é a forma útil à nossa perspectiva, afirmou o filósofo alemão Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844-1900). Em Fragmentos Póstumos (1885-87), Nietzsche escreveu que “O mundo que nos concerne é falso, ou seja, não é estado de fato, mas invenção poética”.

Premido por fatores históricos, culturais e sociais, as testemunhas reagem de acordo com suas convicções, interpretando as experiências dentro de suas respectivas realidades consensuais. As variáveis comportamentais se enquadram como peças de fundamental importância na visão global do problema. Os valores pessoais estão sujeitos a toda sorte de influências, configurando um painel difuso, de múltiplas interpretações. Vislumbradas em conjunto, entrevemos uma série de particularidades e tendências nos perfis das dezenove testemunhas entrevistadas.

Num primeiro grupo, reunimos as dez testemunhas que observaram o mesmo OVNI em diversos pontos de Assis na noite de sete de janeiro. A maioria delas (sete) encontravam-na na Vila Operária, enquanto uma passava pela av. José Severino, uma vigiava o aeroporto e outra estava perto do Centro. A Vila Operária margeia a linha férrea que corre no sentido leste-oeste, desembocando num velho depósito da Fepasa. Todos os locais são núcleos marcadamente urbanos, com razoável concentração populacional, o que vem a quebrar a noção geralmente difundida de que os OVNIs aparecem somente – ou de preferência – em áreas desabitadas ou rurais.

A que exigiu maior atenção de nossa parte foi a costureira Maria Aparecida Pugliese. Durante sua vida, tem se visto às voltas com paracineses, visões de pessoas mortas, premonições, desdobramentos, períodos de tempo perdido dos quais nada se lembra, flashes de luz no quarto, insistentes contatos com seres “demoníacos”, monstros etc. Quando criança, viu um estranho animal que soltava fogo (mula sem cabeça) num sítio em Água Nova. Viu fenômenos no céu (estrelas caindo, bola de fogo mudando de lugar) que interpretou como “sinais”. Dos 18 anos 25 anos, sofreu distúrbios psicológicos que foram diagnosticados como “perturbação espiritual”.

Casada com Wilson Pugliese, com quem concebeu um casal de filhos, morava há mais de 30 anos no local. Ela só se tornou espírita devido a um episódio pitoresco. Numa noite de maio de 1990, surgiu um corte redondo logo abaixo de seu joelho direito. “Eu senti uma faca penetrando no meu joelho e espetando. Levantei-me e acendi a luz. Pensei que tivesse deixado a tesoura na cama. Olhei e não tinha nada. Ficou um buraco no meu joelho, um furo, que parecia feito com bisturi”. Depois de três dias e com a perna bastante inchada, procurou a casa de oração. No centro espírita, disseram-lhe que havia sido “furada espiritualmente”. Em seguida proclamaram-na médium. Tinha visões, pressentimentos. Não conseguia andar de automóvel porque “via” desastres. Chegou a prever a morte do sogro e viu o enterro do seu tio passando na rua às 3 horas da madrugada. “Em 1984, eu acordei e abri a janela do quarto. Olhando para a rua de baixo vi um enterro passando. Comentei com uma vizinha que também estava na janela:  ‘Olha, você já viu enterro uma hora dessas?’ Ela pensou que eu era louca. E eu vi aquele enterro passando e a última pessoa do enterro era uma tia minha. Aí fechei a janela e fui deitar. Noutro dia bem cedo, meu tio veio avisar que a mulher dele, a mesma que eu tinha visto no enterro, havia falecido. Já vi desastres que aconteceram. Eu sonhei que meu marido iria sofrer um acidente no caminhão e por pouco isso não aconteceu. Já previ coisas com meu filho que acabaram acontecendo. Eu vejo e escuto coisas sem explicação, além de muitas coisas que a gente não pode nem falar”. Maria era capaz de sair do próprio corpo, em “projeção astral”: “Já fiz isso umas dez vezes. Vi a mim mesma fazendo as tarefas de casa ou dormindo. Atravessei as paredes, o teto. Voei e vi a cidade funcionando embaixo”. Ela observou, porém, que fazia isso sem controle.

Certa vez, limpava o quarto quando uma estátua de gesso representando um menino vendendo jornal (presente do filho), ergueu-se sozinha no ar e voou em sua direção. Ao desviar, a estátua bateu na parede e espatifou-se. Maria evitava sair de casa por causa das sensações de “perda de tempo”. Num dia de 1993, por volta das 17h30, saiu para levar costuras a uma freguesa, que morava um tanto distante. “Ia para perto de uma creche na Vila Xavier. Entrei numa rua e apaguei. Quando voltei a mim já eram quase 19 horas e estava andando perto das antenas da rádio na Vila Ribeiro. Havia percorrido mais de 5 km. Eu não sabia de que forma havia chegado naquele lugar. Só sei que quando voltei ao normal, perguntei para as pessoas onde era a creche e fiquei com vergonha de falar que não conhecia a cidade. Desse dia em diante fiquei com medo de andar sozinha”. Noutra ocasião, em dezembro, foi fazer compras no mercado e, numa esquina,  “saiu fora do ar”. Chegou a passar em frente da casa sem reconhecer onde estava.

Aziaga foi a noite em que defrontou-se com uma figura diabólica: “Eu vi uma coisa que até meu marido viu. Ouvi um barulho vindo de fora da casa e pensei que era as folhas da planta do vizinho que estavam batendo na parede. Quando levantei (meu marido foi junto comigo) olhei atrás da casa e não vi nada, só senti uma presença diferente, parecia um vento, um calor. Fiquei com medo, ele também ficou, aí entramos para dentro. Eu tentei fechar a porta mas ela não fechava. Parece que tinha uma coisa empurrando a porta. Quando a gente finalmente conseguiu fechá-la, a casa começou a revirar. Eu li a Bíblia e fui deitar. Depois acordei e vi um tipo de um homem, uma coisa diabólica. E aquela coisa se transformando num homem ainda fez uma proposta para mim. Ele falou que o que eu quisesse ele daria pra mim. Ele era um homem bonito, bem vestido e bem vistoso, feito um rapaz de 25 anos, mas quando comecei a desafiá-lo, ele se transformou em uma coluna de fumaça, uma espécie de gênio da lâmpada de Aladin. Eu não sei se isso é coisa da mente da gente. E eu senti que aquela coisa parecia que explodiu ou algo assim, sumiu no meio da fumaça e soltou um cheiro ruim. Desmaiei e quando recobrei os sentidos meu marido perguntou o que tinha acontecido. E respondi que não havia sido nada. Ele contou que eu fiquei andando pelo quarto e falando com alguém”.
Ao mostrar-lhe o retrato falado de um ser extraterrestre tipo alfa (cinzento), ela imediatamente ligou a imagem a um sonho. “Eles falavam de um modo muito engraçado. Tinha um tipo de comunicação pelo cérebro da gente que me induzia ao sono. E no sonho que tive me fizeram dormir e me levaram para um espaço, não sei identificar que espaço é esse. Só sei que fiquei vários dias trancada nesse espaço e com aquela gente perto de mim. Era uma gente esquisita, com orelha de cavalo ou de porco, corpo muito fino, cabeça grande e mãos diferentes. Talvez fossem espíritos ou almas”. Maria confessou que já ficou esvaindo em sangue. “Acordei toda lavada em sangue, com sangue saindo pelo meu nariz. Não sei como isso aconteceu”.

Em janeiro de 1974, Jane Margareth Vieira já tinha visto um disco voador num sítio perto de Quatá, em Santalina, junto com a mãe e vários parentes. Perto dali havia uma usina de cana-de-açúcar, uma indústria têxtil e uma de processamento de proteínas. Por volta das 20 horas, estava na área se despedindo dos parentes quando surgiu um objeto discóide branco, fluorescente, com cerca de 7 m de diâmetro. “A luz que existe no céu, onde está Jesus. Deve ser esta a luz”, correlacionou Dirce. O OVNI desceu no canavial, a uns 200 m de distância e permaneceu pairando a uns 40 m do solo. Encontravam-se presentes cinco homens, cinco mulheres e dois meninos. A irmã de Dirce sentiu que o OVNI a estava “puxando”. Todos ficaram com medo e queriam entrar logo nos carros para irem embora de lá. De repente, o objeto desceu e sumiu, como se tivesse adentrado no solo.

O técnico Ademar Manzano Blanco igualmente confidenciou-me um episódio que vivenciara anteriormente. Em julho ou setembro de 1972, por volta das 20h30, retornava num Fusca de uma pescaria com o amigo Donato Edegard Romagnoli, 53 anos, na época funcionário da casa da agricultura e na ocasião da entrevista balconista da autoelétrica. Perto de Presidente Prudente, um clarão atingiu o Volkswagen. O motor morreu e os faróis se apagaram. Ao conferir a avaria, Ademar constatou a queima do platinado (distribuidor).  “Não deu para ver o objeto, só o clarão. Do jeito que apareceu na lombada, sumiu. Não ouvi qualquer barulho”. Ademar criticou um programa da rádio religiosa que disse que o povo deveria buscar mais a Deus do que discos voadores. “Fiquei irado com o pastor e por isso fiz questão de contar à imprensa o que tinha visto. Telefonei para o jornal A Gazeta do Vale e conversei com colegas que vieram até a oficina. No mesmo dia, o ‘Papa Sanfoneiro’ (morador do parque das Acácias) e o Bruno Bertoncini (morador de uma chácara em Assis) confirmaram que também tinham visto”.

O professor Milton Martins, casado com uma professora da Unesp e pai de três filhos, dedicava-se à maçonaria há 26 anos, tendo atingido o grau máximo dentro da hierarquia. Fazia viagens freqüentes pela maçonaria, que definiu como uma “sociedade beneficente, filosófica e progressista”. Milton lembrou-se de uma ocasião em que perdeu um alicate de bico curvo. Passados uns cinco ou seis anos, sua avó faleceu. Dez dias depois, viu sua avó em sonho, dizendo-lhe que o alicate estava caído no meio de um móvel antigo. Ao procurar no local, acabou encontrando. O alicate não tinha nenhum valor especial, apenas lhe era bastante útil, tanto é que havia comprado outro. Milton contou que sua irmã Miriam Martins Lorini viu OVNIs por duas vezes no balneário de Rancharia. Seu filho Lucas, já havia visto objeto esférico alaranjado em dezembro de 1994, entre 21h20 e 22 horas.

O sonho revelador de Milton é um fenômeno comum e vem sendo registrado em inúmeros episódios ao longo da história. O poema A Divina Comédia, de Dante Alighieri, por exemplo, é considerado uma obra-prima da literatura universal. No entanto, se não fosse o sonho de Jacopo, filho do poeta já então falecido, o original da obra poderia ter desaparecido para sempre. Quando Dante morreu em 1321, Jacopo e seu irmão Pietro ficaram desesperados, não apenas pela perda do pai, mas também por causa do original de A Divina Comédia que ele deixara completo, porém ninguém sabia onde escondera. Os dois viraram a casa de cabeça para baixo procurando entre os papéis, mas os textos que completavam o poema do velho Dante não foram encontrados. Profundamente transtornado, Jacopo teve um sonho. Seu pai entrou em seu quarto, vestido com roupas impecavelmente brancas. Quando o filho perguntou se ele terminara a obra-prima, Dante balançou afirmativamente a cabeça e indicou onde as partes faltantes podiam ser encontradas. Com um advogado amigo do pai por testemunha, Jacopo entrou no quarto de Dante. Atrás do pequeno biombo junto à parede, eles encontraram uma pequena janela. No cubículo para o qual ele se abria, ambos localizaram as páginas finais do poema, já cobertas pelo mofo. Assim, a obra ficou completa, graças a um sonho.

O motorista José Martins Crispim, residente na rua Joaquim Carvalho Mota, contava 1 ano e 11 meses de serviços na empresa de ônibus Florínea. Antes havia trabalhado na empresa de ônibus Andorinha durante cerca de 13 anos. Católico praticante e fervoroso, exibia um crucifixo pendurado no pescoço.  Todavia, admitiu que já freqüentou terreiros de umbanda, onde teria visto “um gato morrer sozinho, possuído por um espírito maligno”. José afirmou que presenciara outros fenômenos enquanto dirigia pelas estradas à noite e de madrugada, alertando que “existem muitas coisas estranhas por aí”. Na época em que guiava um caminhão de transporte na região de Campinas e Santa Maria, ouviu referências sobre a “mulher de branco”, a qual foi vista pelos seus companheiros na Dutra e na Castelo Branco. Contou que freqüentava uma estradinha na cidade de Platina. Certa noite, enquanto guiava seu Fiat branco, por volta das 23 horas, foi acompanhado por um “cavaleiro vestido de branco montado num cavalo meio baio também branco”:  “O cavalo flutuava no ar e andava parelho ao meu carro. Fui acompanhado por um trajeto de quase 1 quilômetro”. Perguntado se acreditava em milagres, respondeu que “o milagre é a fé”.

Há nitidamente um ponto de confluência entre todas as ondas que afetaram o interior de São Paulo no início de 1995. Na região Oeste, além de Assis, as cidades adjacentes de Cândido Mota, Marília, Paraguaçu Paulista e Echaporã registraram casos, embora em menor número. E se ousarmos estender uma linha reta de mais de 1000 km, chegaremos ao município de Quaraí, no Rio Grande do Sul, onde no dia 6 de janeiro de 1995, por volta das 22 horas, uma emissora de rádio local transmitiu ao vivo a aparição de um objeto esférico de luzes multicoloridas. Parecia coisa de Orson Welles, mas era real. Independente disso, devemos assinalar que a região oeste do Estado, tal como vários pontos espalhados pelo Brasil, é privilegiada em fenômenos ufológicos, concentrando um grande número de casos. Citemos duas ocorrências antigas, que atestam essa alta incidência.

Conceição de Monte Alegre, distrito de Paraguaçu Paulista, viveu momentos estranhos em meados de outubro de 1978 com o aparecimento de um objeto no céu que emitia fachos de luz e chegou a perseguir um casal e seus quatro filhos por uma estrada da região durante algum tempo. Ao jornal O imparcial, Dalmeir M. narrou que uma forte luz começou a acompanhar o seu automóvel e mesmo aumentando a velocidade a luz continuou a persegui-lo. Logo depois de uma lombada a luz desapareceu e Dalmeir teve a nítida impressão de que a luz ia pousar na pista. Como já estava apavorado, Dalmeir freou e fez o retorno na tentativa de afastar-se daquele objeto, mas a luz reapareceu e a perseguição continuou. Dessa maneira, Dalmeir teve que apagar as luzes do seu automóvel para tentar despistá-lo e continuou fugindo até chegar ao restaurante Jóia, onde procurou ajuda pois estava em pânico e chorando. Na noite de segunda-feira (uma noite após o ocorrido) algumas pessoas estavam no mesmo restaurante comentando os estranhos acontecimentos da noite anterior quando de repente um clarão iluminou todo o local e o telhado do restaurante desabou ferindo algumas pessoas que ali se encontravam. Para o dono do restaurante o caso não tinha explicação porque não houve ventanias nem chuvas. “Quando o ‘flash’ iluminou, todo o teto veio abaixo. Depois, do lado de fora, vimos a luz desaparecendo à distância. Mas o que mais me impressionou não foi o acidente com a estrutura do meu restaurante, mas sim o estado em que o Dalmeir chegou pois ele é um moço corajoso e estranhei em vê-lo chorando e tremendo, e a sua mulher que nem conseguia falar”.

O comerciante e espírita Renaldy Soares de Moura contou ao ufólogo Christiano José Jabur que em dezembro de 1979, por volta das 19h30, presenciou estranhos fenômenos em Ibirarema, cidade vizinha a Palmital. “Um objeto circular de cerca de 10 m de diâmetro, incolor, chegou vindo do norte e aos poucos foi clareando tudo. Durante o tempo em que o objeto permaneceu estático sobre nós, a uma altura máxima de apenas 4 m, todo o sistema elétrico do veículo foi desligado, como se a bateria tivesse pifado. As pessoas que transportava eram crentes e se jogaram de joelhos crendo ser o Espírito Santo. O que nos pareceu ser 10 minutos, na realidade eram 2 horas ou mais, e após o distanciamento do aparelho, as luzes da Kombi acenderam sozinhas”.

A onda de Assis ganhou notoriedade com as reportagens veiculadas primeiramente no Jornal da Segunda pela jornalista Sandra Regina Pagnan em 16 de janeiro – 9 dias depois de iniciada a onda – e no diário A Gazeta do Vale em 20 de janeiro de 1995. Uma equipe de reportagem da Rede Globo Oeste Paulista esteve em Assis em 21 de janeiro para ouvir as pessoas que viram o objeto. O cinegrafista da Rede Globo gravou as imagens feitas por Jane e mais tarde a emissora tentou comprar a fita original. No mesmo dia, o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT) também entrou em contato com Jane para negociar a aquisição da fita. No geral, a imprensa noticiou corretamente os fatos, com exceção de A Gazeta do Vale que incorreu em exageros e deliberadamente faltou com a verdade. O vigia do aeroporto, por exemplo, nunca afirmou que o objeto que avistara era um disco voador – para ele era um balão – conforme escreveu o jornal.  E o ônibus da empresa Florínea, de acordo com o próprio motorista, não foi “perseguido por um objeto sem forma definida que emitia uma luz azulada de intensidade moderada”, muito menos as “luzes se apagaram e o motor deixou de funcionar por alguns instantes” em função do objeto que, aliás, não “pairava logo acima do veículo”. José contestou com veemência todos os pontos dessa esdrúxula versão.
Nossa pesquisa, que se prolongou por quase dois anos, iniciou-se em 21 de fevereiro de 1995, mais de um mês depois, portanto, de iniciada a onda, o que nos deu o ensejo de apurar os fatos de forma mais acurada. Nesse dia, dirigi-me à casa de Jane e de sua mãe Dirce, sendo muito bem recebido. Pouco antes, havia estado na redação de A Gazeta do Vale conferindo as reportagens. Ambas foram muito receptivas, chegando mesmo a se colocarem à disposição para qualquer eventualidade. Por isso, estranhei ao ser tratado de modo ríspido e esquivo por Jane quando lhe telefonei em 19 de março. Ela se dizia aborrecida com a situação que se criara e assinalou que não pretendia mais falar sobre o assunto. Como insistisse, ela ainda concordou em conceder uma última entrevista. No dia seguinte, telefonei para Nadir dos Santos de Oliveira e, para minha surpresa, ouvi as mesmas alegações de Jane. Nadir por sua vez não quis nem mesmo marcar um encontro ou fornecer o telefone de suas irmãs. Negou-se terminantemente a falar qualquer coisa, parecia ansiosa em encerrar logo a conversa, mas admitiu que o OVNI tentou seqüestrá-las. Diante das negativas tão concordantes entre si, como se tivessem sido previamente ensaiadas, logo desconfiei de uma operação de acobertamento. Mais tarde, Maria também se recusaria a prestar novos depoimentos. Em 14 de janeiro de 1996, fiz nova tentativa de falar com Nadir. Acompanhado de Christiano, que se tornaria ufólogo, fui à sua casa e sem forçar nada pedi que me concedesse apenas um minuto de sua atenção. Identifiquei-me como um pesquisador da Unesp, mesmo assim Nadir não foi nem um pouco reticente, expulsando-nos de modo rude. A jornalista Sandra Regina Pagnan também estranhou essa súbita mudança de comportamento, já que logo depois do ocorrido ela própria se dispôs a narrar publicamente tudo em detalhes.

A imprensa, se no início posicionou-se favoravelmente às testemunhas, tendeu a “abafar” o assunto. A postura do jornal A Gazeta do Vale na edição de 21 de janeiro de 1995, era favorável, mas a de 27 de janeiro, totalmente oposta. Consideramos a hipótese de Jane ter ficado aborrecida com as insinuações maldosas do jornal e por isso se recusado a nos atender. Entretanto, quando a entrevistamos em 21 de fevereiro, ocasião em que, repetimos, fomos muito bem recebidos, a matéria de A Gazeta do Vale já havia saído há quase um mês. Não há assim uma relação direta entre o comportamento arredio e as insinuações que, àquela altura, haviam sido superadas, além do que nem Nadir muito menos Maria foram alvos de qualquer crítica por parte da imprensa. Maria, aliás, nem sequer chegou a aparecer nos jornais. Sempre que perguntávamos a Jane onde estava a fita original do filme, esta desconversava dizendo que o emprestara a uma irmã mais velha residente em Lençóis, perto de Bauru. Conseguimos obter, todavia, na redação de A Gazeta do Vale, dois fotogramas originais do filme, nos quais se vê uma esfera contra o céu escuro.
Levando em conta que os radares dos aeroportos e dos centros de controle de tráfego aéreo costumam detectar OVNIs, solicitei informações ao Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta II), de Curitiba. O capitão aviador Diógenes Camargo Soares, oficial de Comunicação Social, datada de 10 de maio de 1995, emitiu as seguintes escusas: “Infelizmente não seremos capazes de lhe oferecer nenhuma informação, por duas razões: 1) Como o sr. bem sabe, as características físicas que esses possíveis veículos necessitam ter, para a realização de deslocamentos interplanetários, os tornam, cientificamente falando, invisíveis aos equipamentos de detecção de radar; e 2) Não houve, efetivamente, nenhum registro nesse campo na área de nossa jurisdição desde a sua implantação”. Dois enganos propositais: os OVNIs são, na maioria das vezes, perfeitamente detectáveis pelo radar e inúmeros registros foram obtidos pelo Cindacta II, conforme denunciaram outros oficiais.

Ante os meus veementes protestos, Diógenes enviou-me uma extensa carta, datada de 18 de setembro, em que procura justificar-se sub-repticiamente: “...sou oficial do Ministério de Aeronáutica, que reconhece ser um funcionário da Administração Direta da União, pago pelos impostos dos contribuintes, dos quais me incluo, e conheço bem as obrigações inerentes a minha função, não tendo portanto, nenhuma razão plausível para esconder quaisquer informações, até porque, não há o que esconder onde trabalho. [...] Nem sempre é fácil saber-se com quem estamos lidando ao tratarmos por carta e, meu intuito foi o de demonstrar as dificuldades no que tange a fatos dessa natureza, de uma maneira simples e compreensível. Espero sinceramente, através dessa segunda carta, esclarecer melhor os pontos que tentei na primeira carta. [...] Ainda, visando a finalidade para qual se gasta uma soma considerável de dinheiro, os sistemas de detecção radar existentes no Brasil são necessariamente voltados para o controle e a vigilância do espaço aéreo. Nessas funções, entende-se a capacidade visualizar bem um retorno de radar de aeronave cujo tipo se conhece para, efetivamente exercer o controle, evitando que haja uma proximidade indesejável desses plotes, ao ponto de virem a colidir. Quanto a vigilância, o raciocínio não pode ser diferente, pois os recursos não foram voltados para uma defesa do espaço aéreo contra possíveis ‘alvos intergalácticos de características desconhecidas’, mas sim de retornos ao menos compatíveis com os já conhecidos pelos radares, ou seja, aviões. Não estou dizendo com isso, que as autoridades aeronáuticas estão de olhos fechados para o problema dos OVNIs. Quando há qualquer anomalia radar de caráter desconhecido, inicia-se imediatamente um processo investigatório, com fins a esclarecer o problema. Digo entretanto que, ao conceber-se um sistema de detecção radar, que custa caro, deve-se saber exatamente para qual finalidade se pretende utilizá-lo, o que no nosso caso, visou a dar condições para o Brasil figurar entre os países que detém um dos espaços aéreos mais bem controlados e seguros do mundo. [...] Por óbvio que conheço os episódios protagonizados pela própria Força Aérea até porque sou piloto de caça e servi 8 anos como tal, conhecendo bem de perto as missões aludidas, entretanto, o que discuto é que até hoje, nada de concreto se obteve a respeito dos casos. Algo de diferente aconteceu, mas que conclusões foram alcançadas? A verdade é que, em nenhum lugar do mundo civilizado de hoje se conhece resposta para tais fenômenos. [...] Sobre a relação Nucomdabra e os Cindactas, o que de fato existe é que estes últimos são responsáveis pelas ações de defesa aérea, as quais são supervisionadas pelo Comando de Operações de Defesa Aérea (CODA). Se por acaso, como disse, for detectado qualquer fenômeno no sistema de detecção-radar, aquele núcleo será avisado quando então passará a determinar o que deve ser feito a respeito. Nós somos apenas órgãos executores e não detemos o poder de decisão. Ainda que julgue a minha opinião sobre o assunto, apenas uma a mais, gostaria de dizer que acredito ser possível alguma forma de civilização e vida diferentes da nossa, haja vista a infinidade do cosmos. Mas o que preciso deixar claro, é que o nosso serviço, que é prestado 24 horas, 365 dias ao ano, está voltada diretamente para a segurança das pessoas que utilizam os céus como meio de transporte e o desejam sempre seguro. Para nós é muito importante que não haja erro no controle do espaço aéreo, pois se houver, ele poderá custar muitas vidas, já que os aviões de hoje transportam, em média, mais de duzentas pessoas por vôo. Aqui no Cindacta II, nós controlamos oitocentos vôos por dia, num espaço aéreo de mais de 1.500.000 km2 de área. Frente a esta responsabilidade, sentimo-nos cumpridores do nosso dever, quando vemos que, em mais de 10 anos de funcionamento, não houve nenhum acidente de tráfego aéreo, por falta de um sistema de controle de radares ou ineficiência de nossos operadores.  Como o sr. já sabe, o único órgão no Brasil responsável sobre a investigação de objetos não identificados é o Nucomdabra e, fora ele, nenhum outro órgão terá condições de ajudá-lo no assunto”.

Repassando todos os fatos, inferimos que os avistamentos poderiam não ter passado de fantasias retiradas do inconsciente coletivo a partir do encontro real com um OVNI, o qual serviu como detonador do processo. Seres bem reais encenaram operações simuladas, bem ao estilo do teatro ou do cinema, de modo a inserir determinadas imagens, capazes de conduzir a aspectos que as pessoas são incapazes de perceber. A teoria não é completamente satisfatória. Mas há motivos que apóiam fortemente a possibilidade de que uma “operação de controle mental”, cuidadosamente planificada com o objetivo de manipular ou testar as reações humanas, aproveitando a enorme expectativa popular em torno do fenômeno, foi implementada secretamente por militares ou setores desconhecidos do governo na região Oeste do Estado. Em última instância, poderia tratar-se de uma montagem oficial com vistas a encobrir os testes e as manobras de protótipos secretos, sob a aparência de OVNIs. Indagando às testemunhas o que elas pensavam ser o objeto, ouvimos duas respostas que vão ao encontro dessa assertiva.  Sônia Vieira Pinto achou que o objeto era uma “projeção”. Maria Aparecida Pugliese pensou que era um “avião de outro país que estava aqui para pesquisar”. O fenômeno OVNI, portanto, é uma questão concreta, em que um processo social está em jogo. Entendemos que esses casos não constituem fins em si mesmos, mas só têm valor na medida em que apreendemos aspectos culturais presentes na mentalidade coletiva hodierna.

Cláudio Tsuyoshi Suenaga é Mestre em História pela Faculdade de Ciências e Letras (FCL) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Assis, consultor da revista UFO e colaborador da revista Sexto Sentido.

6 comentários:

  1. Muito bom ler tudo isso, estou vendo umas coisas aqui perto de casa que cheguei achar que estava ficando louco....ainda bem que não sou o único! Sou de presidente prudente

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    1. Eu tanbem ja vi umas coisa estranha tanbem e acredito nessa bagaca toda

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  2. Isso existe com certeza a propria forca aerea brasileira como outras investigan tudo isso e so ve no proprio you tube documentos depoimentos militares tem um dos mais famosos investigados e escondido pela forca aerea caso prat coronel yurange holanda

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  3. E que tem mt gente setica por que tem mt babaca que fica fazendo video besta e ponha la pra ganha curtida mais essas porra existe so pesquiza com raciocio inteligencia e liga as pontas quebra cabeca e sao coisas movidas a eletrecidade sim algum tipo de reator nuclear que transforma e uma alta corrente eletrica por isso parecen estrela acesas e como se fosse uma lanpada so que com mt potencia talves milhoes de volts e reator que transforma essas coisas sao tecnologia mais nao sao daki nao

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  4. Vou colaca casos aqui no brasil pra quem nao pesquizou pesquizar corretamente caso prato em colares en 77 pelo coronel holanda .. noite oficial dos ovinis investugado pela forca aerea tanbem veio a publico nao dava pra esconder ...caso varginha mts contradicoes dos militares do exercito tentando esconder o fato ocorrido en 96 tem um fisico americano chamado robert bob lazer fisico fala que foi contratado e explica como funciona so nao sabe explica como se domina essa tecnologia pois e expantosa eziste engenharia reversa algumas potencias possuen naves pra estudo reverso 1947 americanos pegou mt gente afirma que nois estamos hj vivendo a era da tecnologia gracas a essas coisas capituradas naves e estudadas por isso temos hj celular tabets conputadores otimos condencadores placas led lezer sistemas operaciol fastastucos mais se conparando com quem inventou esas naves nao sao nada ainda pois sao bem avancadas em inteligencias

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  5. Eu achava que era invencoes essas coisa mais nao é nao exercito governos de todo o mundo gastan fortunas investigando isso tudo e nao e atoa eles esconden ao maximo que poden as informacoes

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